As uvas estão maduras, o campo lavrado, A colina desprende-se das nuvens. Nos espelhos empoeirados do verão A sombra caiu, Entre dedos incertos O seu brilho é evidente, E distante. Com as andorinhas voa A última angústia. (a partir da versão inglesa de Patrick Creagh, Selected Poems, Penguin)
Mês: Abril 2020
“Eterno”, de Giuseppe Ungaretti (1888-1970), trad. Bruno M Silva
Entre uma flor colhida e a outra dada o inexprimível nada
“Bem dentro de nós”, de Vasko Popa (1922 – 1991), trad. Bruno M. Silva
I Erguemos as mãos A rua sobe até ao céu Baixamos os olhos Os telhados pendem para o a terra De cada dor Que não mencionamos Um castanheiro cresce E misterioso permanece por trás de nós De cada esperança Que nutrimos Uma estrela levanta-se E move-se inatingível à nossa frente Ouves o tiro Que voa entre as nossas cabeças Ouves o tiro Que guarda o nosso beijo (a partir da versão inglesa de Anne Pennington, Selected Poems, Penguin)
“Últimos Coros para a Terra Prometida”, de Giuseppe Ungaretti (1888-1970), trad. Bruno M. Silva
27. O amor já não é aquela tempestade Que no fulgor da noite Ainda há pouco me prendia Entre a insónia e o frenesim, Luz de um farol Para o qual o velho capitão Calmamente navega (a partir da versão inglesa de Patrick Creagh, Selected Poems, Penguin)
“Silêncio”, de Giuseppe Ungaretti (1888-1970), trad. Bruno M. Silva
Mariano, 27 de Junho 1916 Conheço uma cidade que todos os dias se enche de luz e nesse instante tudo se encanta Eu parti certa noite No meu coração o estremecer das cigarras continuou Da branca embarcação eu vi a minha cidade desaparecer e deixar um enlace de luzes por um momento no ar turvo suspensas (a partir da versão inglesa de Patrick Creagh, Selected Poems, Penguin)
“Uma cabeça desabrigada”, de Vasko Popa (1922 – 1991), trad. Bruno M. Silva
Uma cabeça decepada Uma cabeça com uma flor entre os dentes Errante circunda a terra O sol encontra-a Faz-lhe uma vénia E segue o seu caminho A lua encontra-a A ela sorri E não pára de seguir o seu caminho Por que rosna ela à terra Não poderia voltar Ou partir para sempre Os seus floridos lábios saberão (a partir da versão inglesa de Anne Pennington, Selected Poems, Penguin)