II
Estava tão farto do mundo,
tão exausto de tudo,
porque tudo estava manchado de mim mesmo,
céus, árvores, flores, pássaros, água,
pessoas, casas, ruas, veículos, máquinas,
nações, exércitos, guerras, tratados de paz,
trabalho, diversão, governo, anarquia,
estava tudo manchado de mim mesmo, eu sempre soube
porque tudo era eu mesmo.
Quando colhia flores, sabia que arrancava a minha própria floração.
Quando entrava num comboio, sabia que viajava por minha própria criação.
Quando ouvia os canhões de guerra, ouvia a minha própria destruição.
Quando via os mortos despedaçados, sabia que era o meu próprio corpo torcido.
Tudo isto era eu, eu havia feito tudo na minha própria carne.
Bruno M. Silva nasceu em 1990, no Porto. Publicou, em 2021, o livro de poesia A Cabeça em Tróia, pela editora Enfermaria 6. Juntamente com Andreia C. Faria traduziu a obra Este Grande Não-Saber. Últimos Poemas, de Denise Levertov, editado pela Flâneur. Tem poemas publicados na revista Ler, na Enfermaria 6, onde é colaborador regular, na Tlön, na Eufeme, na escamandro, na Gazeta de Poesia Inédita e no Jornal Universitário do Porto. Três dos seus poemas foram traduzidos para espanhol de forma a integrarem a antologia Lluvia oblicua. Poesía portuguesa actual, editada pela Valparaíso Ediciones, no México. Venceu as edições 17 e 18 do concurso Aveiro Jovem Criador. Foi um dos fundadores da revista literária A Bacana.
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