“O inefável”, de Delmira Agustini (1886-1914) trad. Bruno M. Silva

Eu morro estranhamente… Não me mata a Vida,
Não me mata a Morte, não me mata o Amor;
Morro de um pensamento mudo como uma ferida…
Não tereis sentido nunca a estranha dor

De um pensamento imenso que se prende à vida,
Devorando alma e carne, e que não chega a dar flor?
Nunca levastes dentro uma estrela adormecida
Que vos queimava inteiros sem nunca luzir?…

Cume dos Martírios!… Levar eternamente,
Desolada e estéril, a trágica semente
Cravada nas entranhas como um dente feroz!…

Mas um dia arrancá-la em flor,
Milagrosa, inviolável!… Ah, maior não seria
Ter entre as mãos a cabeça de Deus!


[de Cantos de la mañana 1910]

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