“Vida dos Poetas” de José Emilio Pacheco (1939-2014) trad. Bruno M. Silva

Na poesia não há final feliz.
Os poetas acabam
por viver a sua loucura.
E são retalhados como gado
(aconteceu com Darío).
Ou então são apedrejados e acabam
por se atirar ao mar ou com cristais
de cianeto na boca.
Ou mortos pelo álcool, drogas, miséria.
Ou pior: poetas oficiais,
amargos habitantes de um túmulo
chamado Obras Completas.

“Sonhei que me guiavas” de Antonio Machado (1875-1939) trad. Bruno M. Silva

Sonhei que me guiavas
por uma branca vereda,
entre o campo verde,
em direcção ao azul das serras,
em direcção aos montes azuis,
numa manhã serena.

Senti a tua mão na minha,
a tua mão de companheira,
a tua voz de menina no meu ouvido
soando como um sino recente,
como um sino inaudito
na manhã de primavera.
Eram a tua voz, a tua mão,
em sonhos, tão reais!...
Vive, esperança. Quem sabe
o que devora a terra!

Poema de Antonio Machado (1875-1939) trad. Bruno M. Silva

E era o demónio dos meus sonhos, o mais belo
de todos os anjos. Os seus olhos vitoriosos
ardiam como metal,
e as chamas que caíam
da sua tocha como gotas
iluminavam a profunda cadeia da minha alma.

"Virás comigo?" - "Não, jamais! Assustam-me 
os túmulos e cadáveres."
Mas a sua mão de ferro
segurou-me.

"Virás comigo."... E no meu sonho caminhei
cego diante da sua tocha rubra.
Na cadeia escutei o som de correntes
e o alvoroço das feras enjauladas.

“Campo”, de Antonio Machado (1875-1939), trad. Bruno M. Silva

A tarde morre
como uma humilde lareira que se apaga.
  
Ali, sobre os montes,
restam apenas algumas brasas.
  
E aquela árvore sobre o caminho branco, quebrada,
faz-te chorar de piedade.
  
Dois ramos no tronco desfeito, e uma
folha, gasta e negra, em cada ramo!
  
Choras?... Entre os álamos de ouro,
distante, a sombra do amor espera por ti.