Na poesia não há final feliz. Os poetas acabam por viver a sua loucura. E são retalhados como gado (aconteceu com Darío). Ou então são apedrejados e acabam por se atirar ao mar ou com cristais de cianeto na boca. Ou mortos pelo álcool, drogas, miséria. Ou pior: poetas oficiais, amargos habitantes de um túmulo chamado Obras Completas.
Categoria: Poesia Espanhola
“Sonhei que me guiavas” de Antonio Machado (1875-1939) trad. Bruno M. Silva
Sonhei que me guiavas por uma branca vereda, entre o campo verde, em direcção ao azul das serras, em direcção aos montes azuis, numa manhã serena. Senti a tua mão na minha, a tua mão de companheira, a tua voz de menina no meu ouvido soando como um sino recente, como um sino inaudito na manhã de primavera. Eram a tua voz, a tua mão, em sonhos, tão reais!... Vive, esperança. Quem sabe o que devora a terra!
Poema de Antonio Machado (1875-1939) trad. Bruno M. Silva
E era o demónio dos meus sonhos, o mais belo de todos os anjos. Os seus olhos vitoriosos ardiam como metal, e as chamas que caíam da sua tocha como gotas iluminavam a profunda cadeia da minha alma. "Virás comigo?" - "Não, jamais! Assustam-me os túmulos e cadáveres." Mas a sua mão de ferro segurou-me. "Virás comigo."... E no meu sonho caminhei cego diante da sua tocha rubra. Na cadeia escutei o som de correntes e o alvoroço das feras enjauladas.
“Campo”, de Antonio Machado (1875-1939), trad. Bruno M. Silva
A tarde morre como uma humilde lareira que se apaga. Ali, sobre os montes, restam apenas algumas brasas. E aquela árvore sobre o caminho branco, quebrada, faz-te chorar de piedade. Dois ramos no tronco desfeito, e uma folha, gasta e negra, em cada ramo! Choras?... Entre os álamos de ouro, distante, a sombra do amor espera por ti.