II Estava tão farto do mundo, tão exausto de tudo, porque tudo estava manchado de mim mesmo, céus, árvores, flores, pássaros, água, pessoas, casas, ruas, veículos, máquinas, nações, exércitos, guerras, tratados de paz, trabalho, diversão, governo, anarquia, estava tudo manchado de mim mesmo, eu sempre soube porque tudo era eu mesmo. Quando colhia flores, sabia que arrancava a minha própria floração. Quando entrava num comboio, sabia que viajava por minha própria criação. Quando ouvia os canhões de guerra, ouvia a minha própria destruição. Quando via os mortos despedaçados, sabia que era o meu próprio corpo torcido. Tudo isto era eu, eu havia feito tudo na minha própria carne.
Mês: Agosto 2021
“Fadiga”, de D. H. Lawrence (1885-1930), Trad. Bruno M. Silva
A minha alma teve um dia longo e difícil, está fatigada, e procura agora o esquecimento de si mesma. Oh, e no mundo não há lugar onde a alma encontre o seu olvido, a paz que vem depois da escuridão, pois o homem matou o silêncio da terra e destruiu os lugares brandos do esquecimento onde os anjos costumavam pousar. [in Last Poems]
“Eu olho para o mundo”, de Langston Hughes (1902-1967), trad. Bruno M. Silva
Eu olho o mundo Pelos olhos que despertam num rosto negro – E é isto que eu vejo: Este lugar estreito e vedado Que me destinaram. Olho depois os muros absurdos Pelos olhos negros num rosto negro – E é isto que eu sei: Que estes muros que a opressão constrói Terão que ir! Olho para o meu próprio corpo Com olhos já não cegos – E vejo que as minhas mãos podem construir O mundo que existe na minha cabeça. Apressemo-nos então a encontrar, camaradas, O caminho por achar.