Hoje estou doente, doente no meu corpo, de olhos abertos, emudecida, estou deitada na cama de parto. Porque é que eu, tão acostumada à proximidade da morte, da dor, do sangue, do grito, agora tremo incontrolavelmente de temor? Um jovem e agradável médico tentou reconfortar-me, e falou sobre a alegria de dar à luz. Uma vez que eu sei mais do que ele sobre esta matéria, de que me serve o seu tagarelar? Conhecimento não é realidade. A experiência pertence ao passado Que se calem então os que carecem de urgência Que os observadores se contentem com observar. Eu estou sozinha, perfeitamente, inteiramente, absolutamente entregue a mim mesma, mordendo os meus lábios, segurando o meu corpo rígido, servindo um fado inexorável. Existe apenas uma verdade. Darei à luz uma criança, a verdade movendo-se do meu interior para fora. Nem bom nem mau; real, sem que haja nisto falsidade. Com as primeiras dores de parto, subitamente o sol empalidece. O mundo indiferente fica estranhamente calmo. Eu estou sozinha. É sozinha que eu sou.