E devo então viver contigo, Dor,
Toda a minha vida? - partilhar o meu fogo, a minha cama,
Partilhar – pior de tudo! - a mesma cabeça? -
E quando me alimento, alimentar-te a ti também?
Que assim seja, então, se é esta a minha verdade:
Jantemos, camarada, e que sejamos alimentadas;
Eu não posso morrer até que tu estejas morta,
E, contigo viva, posso viver a vida até ao fim.
Ainda assim feres-me, ingrata convidada,
Espiando os meus ofícios ardentes
Com olhar gelado; roubando-me as noites de descanso;
Tornando difíceis os trabalhos outrora simples.
Morrerás comigo: mas eu irei, no melhor dos casos,
Perdoar-te um pouco, por tudo o que me fizeste.
Bruno M. Silva nasceu em 1990, no Porto. Publicou, em 2021, o livro de poesia A Cabeça em Tróia, pela editora Enfermaria 6. Juntamente com Andreia C. Faria traduziu a obra Este Grande Não-Saber. Últimos Poemas, de Denise Levertov, editado pela Flâneur. Tem poemas publicados na revista Ler, na Enfermaria 6, onde é colaborador regular, na Tlön, na Eufeme, na escamandro, na Gazeta de Poesia Inédita e no Jornal Universitário do Porto. Três dos seus poemas foram traduzidos para espanhol de forma a integrarem a antologia Lluvia oblicua. Poesía portuguesa actual, editada pela Valparaíso Ediciones, no México. Venceu as edições 17 e 18 do concurso Aveiro Jovem Criador. Foi um dos fundadores da revista literária A Bacana.
Ver todos os artigos por Bruno M. Silva