“Andei por tantos caminhos” de Antonio Machado (1875-1939) trad. Bruno M. Silva


Andei por tantos caminhos,
abri inúmeras veredas;
naveguei por cem mares,
e atraquei em cem margens.


Em toda a parte vi
caravanas de tristeza,
sombras negras de soberbos
e melancólicos bêbedos,


e pedantes embrulhados em robes
que olham, calam e pensam
que sabem mais, porque não bebem
o vinho miserável das tabernas.


Homens cruéis que caminham
e vão empestando a terra…

E em toda a parte vi
pessoas que dançam e brincam,
quando podem, e trabalham
a pouca terra que lhes coube.


Nunca, se chegam a um lugar,
perguntam onde chegaram.
Quando caminham, cavalgam
às costas de velhas mulas,


e não conhecem a urgência
nem em dias de festa.
Onde há vinho, bebem vinho;
onde não há, bebem água fresca.


São pessoas boas que vivem,
trabalham, passam e sonham,
e num dia como qualquer outro,
se deitam debaixo da terra.


[Soledades, gallerías y otras poemas (1899–1907)]
[Retrato de Antonio Machado por Joaquín Sorolla (1918)]

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