“uma mulher que ame”, de Lucille Clifton (1936-2010), trad. Bruno M. Silva

uma mulher que ame
homens impossíveis
senta-se muito tempo fechada
olhando as janelas
ela não tem irmão
que compreenda
onde ela não vai
as irmãs oferecem-lhe
os seus próprios seios, vasos
cheios e cremosos mas ela
não pode beber porque
ela ama homens impossíveis
 
uma mulher que ame
homens impossíveis
à noite ouve música
que não pode cantar
bebe bom xerez
engole as notas
oxidadas na garganta
mas ela não enche
ela já está cheia
de amor por homens impossíveis
 
uma mulher que ame
homens impossíveis
promete todas as manhãs
que vai tomar esse dia nas suas
mãos
despi-lo           deitar-se com ele
aprender a amá-lo
mas não o faz             ela passa por
estranhos         passa por família
esquece as suas marcas
os seus aniversários
lembra-se apenas dos nomes
das manchas dos homens impossíveis
 
 
(a partir da edição The Collected Poems of Lucille Clifton 1965-2010, Boa Editions Ltd)

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